quarta-feira, julho 13, 2011

O Ponto do Retorno Seguro - Dieter F. Uchtdorf

"O dom da Expiação de Jesus Cristo concede-nos em todos os momentos e em todos os lugares as bênçãos do arrependimento e do perdão."


Durante meu treinamento para ser piloto de aviação comercial, tive de aprender a conduzir uma aeronave por longas distâncias. Vôos sobre oceanos imensos, travessias por extensos desertos e viagens de um continente ao outro exigem um cuidadoso planejamento para garantir uma chegada segura ao destino programado. Alguns desses vôos sem paradas podem durar até 14 horas e cobrir uma distância de cerca de 14.000 quilômetros.

Há um importante momento de decisão durante esses longos vôos, geralmente conhecido como o ponto de retorno seguro. Até esse ponto, a aeronave tem combustível suficiente para fazer a volta e retornar com segurança ao aeroporto de partida. Mas, depois de passar o ponto de retorno seguro, o capitão não tem mais essa opção, e precisa continuar. É por isso que muitas vezes se diz que esse é o ponto sem retorno.

Existem Pontos sem Retorno em Nossa Vida?
Satanás, “o pai de todas as mentiras” (2 Néfi 2:18), “o pai da discórdia” (3 Néfi 11:29), “o autor de todo pecado” (Helamã 6:30) e o “inimigo de Deus” (Morôni 7:12) usa as forças do mal para nos convencer de que esse conceito se aplica sempre que pecamos. As escrituras o chamam de “o acusador” porque ele quer que sintamos que não mais podemos ser perdoados (ver Apocalipse 12:10). Satanás quer que pensemos que, quando pecamos, chegamos ao “ponto sem retorno” — que é tarde demais para mudar de curso. Neste mundo belo, porém problemático, a triste realidade é que essa atitude traz grande tristeza, dor e sofrimento para a família, para o casamento e para a vida da pessoa individualmente.

Satanás tenta falsificar a obra de Deus, podendo assim enganar muitas pessoas. Para fazer-nos perder a esperança, sentir-nos tão miseráveis quanto ele próprio e acreditar que o perdão está além do nosso alcance, Satanás chega a usar de maneira errada as palavras das escrituras que salientam a justiça de Deus para dar-nos a entender que a misericórdia não existe.

Qual É o Plano do Senhor para Nosso Retorno Seguro?
Recebemos proteção contra a influência do maligno por meio do evangelho de Jesus Cristo, que é a boa nova de que Jesus fez uma Expiação perfeita pela humanidade; a mensagem de amor, esperança e misericórdia que diz que é possível haver uma reconciliação do homem com Deus.

Pecar é transgredir voluntariamente a lei divina. A Expiação de Jesus Cristo é a dádiva de Deus a Seus filhos para corrigir e sobrepujar as conseqüências do pecado. Deus ama todos os Seus filhos e nunca deixará de amar-nos e de ter esperança em nós. O plano do Pai Celestial é claro e Sua promessa é grandiosa: “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (João 3:17).

Cristo veio para nos salvar. Se seguirmos o curso errado, a Expiação de Jesus Cristo garante-nos que o pecado não é um ponto sem retorno. O retorno seguro é possível se seguirmos o plano de Deus para nossa salvação.

Recebemos esse plano da mais alta autoridade do universo, do próprio Deus, nosso Pai Celestial. Esse plano foi preparado desde antes da fundação do mundo. É um grande plano de felicidade, um plano de misericórdia, de redenção, de salvação. Esse plano permite que tenhamos uma existência física que inclui a mortalidade, um tempo de provação e que voltemos à presença de Deus e vivamos em eterna felicidade e glória. Esse plano é explicado nas doutrinas do evangelho restaurado de Jesus Cristo.

Seguir esse plano traz belas conseqüências eternas para nós individualmente, para nossa família, para as gerações futuras e até para as gerações passadas. O plano inclui a reconciliação divina e o perdão.

Como É Possível Obter o Perdão Divino?
Reconhecemos que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23), mas também declaramos com firmeza que o arrependimento e o perdão podem ser tão reais quanto o pecado.

A Expiação de Jesus Cristo torna cada pessoa responsável por seus próprios pecados. Sobrepujaremos as conseqüências de nossos próprios pecados recorrendo às bênçãos e à graça da Expiação.

O Presidente David O. McKay disse: “Todo princípio e ordenança do evangelho de Jesus Cristo é significativo e importante (…) mas não há nada mais essencial para a salvação da família humana do que o princípio divino eternamente operante do arrependimento” (Gospel Ideals, 1953, p. 13).

“A nenhum desses será concedida salvação, a não ser pelo arrependimento e fé no Senhor Jesus Cristo” (Mosias 3:12).

Não é o arrependimento em si que salva o homem. É o sangue de Jesus Cristo que nos salva. Não é apenas por nossa sincera e honesta mudança de comportamento, mas “[é] pela graça que somos salvos, depois de tudo o que pudermos fazer” (2 Néfi 25:23). O arrependimento sincero, no entanto, é a condição necessária para que recebamos o perdão de Deus em nossa vida. O arrependimento sincero “[transforma] em dia radiante até mesmo a noite mais escura” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Spencer W. Kimball, 2006, p. 39].

Do que Consiste o Verdadeiro Arrependimento?
Precisamos de grande fé em Cristo para sermos capazes de nos arrepender. Nossa fé precisa incluir “uma idéia correta do caráter, perfeições e atributos [de Deus]” (Lectures on Faith,[1985], p. 38). Se acreditarmos que Deus conhece todas as coisas, que é cheio de amor e de misericórdia, seremos capazes de, sem hesitar, depositar nossa confiança Nele para nossa salvação. A fé em Cristo mudará nossos pensamentos, crenças e comportamentos que não estejam em harmonia com a vontade de Deus.

O verdadeiro arrependimento faz com que voltemos a fazer o que é certo. Para nos arrependermos sinceramente, temos de reconhecer nossos pecados, sentir remorso, ou tristeza segundo Deus, e confessá-los ao Pai Celestial. Se nossos pecados forem graves, também devemos confessá-los ao líder do sacerdócio autorizado. Precisamos pedir perdão a Deus e fazer tudo o que pudermos para corrigir quaisquer danos causados por nossas ações. Arrepender-se significa passar por uma mudança na mente e no coração: parar de fazer coisas erradas e começar a fazer coisas certas. O arrependimento faz com que tenhamos uma atitude diferente em relação a Deus, a nós mesmos e à vida em geral.

Quais São os Frutos do Perdão?
O verdadeiro arrependimento nos abençoa com os efeitos da Expiação: sentimos o perdão de Deus e Sua paz, e a culpa e a tristeza são retiradas; desfrutamos da influência do Espírito Santo em maior abundância; e ficamos mais preparados para viver com o Pai Celestial.

O Presidente Spencer W. Kimball ensinou: “A essência do milagre do perdão é que proporciona paz à alma anteriormente angustiada, intranqüila, frustrada e aflita. (…) Deus varrerá de seus olhos as lágrimas de angústia, remorso (…) temor e culpa” (ver O Milagre do Perdão, pp. 363 e 368).

Jesus prometeu: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou: (…) Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:27).

O profeta Alma, que foi restaurado do pecado para a felicidade pelo perdão de Deus, declarou: “Iniqüidade nunca foi felicidade” (Alma 41:10). Ele viveu as dores amargas do pecado, mas também falou com entusiasmo da felicidade que acompanha o verdadeiro arrependimento e perdão: “Sim, digo-te (…) nada pode haver tão belo e doce como o foi minha alegria” (Alma 36:21). Alma encerra com um vigoroso e sábio conselho a todos os que buscam o perdão: “E agora (…) desejo que não te preocupes mais com essas coisas e que deixes apenas teus pecados te preocuparem, com aquela preocupação que te levará ao arrependimento” (Alma 42:29).

Como Podemos Saber Se Deus Nos Perdoou?
O Presidente Harold B. Lee disse: “Quando tiverem feito tudo o que estiver ao seu alcance para sobrepujar seus erros e tiverem determinado em seu coração que nunca mais os cometerão, então (…) [lhes será possível ter] paz na consciência, e saberão assim que seus pecados foram perdoados” (“Law of Chastity Vital, Girls Told”, Church News, 2 de setembro de 1972, p. 7).

Uma vez que estejamos sinceramente arrependidos, Cristo retirará o fardo da culpa por nossos pecados. Saberemos por nós mesmos que fomos perdoados e estamos limpos. O Espírito Santo será prova disso: Ele é o Santificador, não há maior testemunho de perdão do que esse.

O Senhor disse: “Aquele que se arrepender e cumprir os mandamentos do Senhor será perdoado” (D&C 1:32; grifo do autor). “Vinde a mim, todos os que estais cansados e

oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28). “Sê fiel e diligente (…) e envolver-te-ei nos braços de meu amor” (D&C 6:20).

E Ele declarou: “Eis que aquele que se arrependeu de seus pecados é perdoado e eu, o Senhor, deles não mais me lembro” (D&C 58:42).

Satanás tentará fazer-nos acreditar que nossos pecados não foram perdoados porque nos lembramos deles. Satanás é mentiroso; ele tenta turvar nossa visão e desviar-nos do caminho do arrependimento e do perdão. Deus não nos prometeu que não nos lembraríamos de nossos pecados. Essa lembrança ajuda-nos a evitar que cometamos os mesmos erros novamente. Mas se permanecermos firmes e fiéis, a lembrança de nossos pecados será suavizada com o tempo. Isso faz parte do processo necessário de cura e santificação. Alma testificou que, depois de ter clamado a Jesus por misericórdia, continuou a lembrar-se de seus pecados, mas essa lembrança não lhe causava mais sofrimento nem o torturava mais, porque ele sabia que fora perdoado (ver Alma 36:17–19).

É nossa responsabilidade evitar qualquer coisa que traga à tona as lembranças de pecados antigos. Se continuarmos a ter um “coração quebrantado e um espírito contrito” (3 Néfi 12:19), podemos ter a certeza de que Deus “não mais se lembrará de [nossos] pecados”.

De que Modo Perdoar Ajuda-nos a Receber o Perdão de Deus?
Jesus ensinou uma verdade eterna quando nos ensinou a orar: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. (…) Pois se aos homens perdoardes as suas ofensas, vosso Pai Celestial também vos perdoará. Mas se não perdoardes (…), tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (3 Néfi 13:11, 14–15).

Portanto, perdoar os outros é um pré-requisito para receber o perdão.

Para nosso próprio bem, precisamos da coragem moral para perdoar e pedir perdão. Nossa alma jamais alcançará mais nobreza e coragem do que quando perdoarmos. Inclusive quando perdoarmos a nós mesmos.

Cada um de nós tem a obrigação, segundo a palavra de Deus, de exercer perdão e misericórdia e perdoar uns aos outros. Há uma grande necessidade desses atributos em nossa família, em nosso casamento, nas alas, nas estacas, na comunidade e em nosso país.

Receberemos a alegria do perdão em nossa vida quando estivermos dispostos a perdoar os outros espontaneamente. Perdoar da boca para fora não basta. Precisamos expurgar o coração e a mente de sentimentos e pensamentos amargos, e deixar que entrem a luz e o amor de Cristo. Como resultado, o Espírito do Senhor encherá nossa alma da alegria que acompanha a divina paz de consciência (ver Mosias 4:2–3).

Caros irmãos e irmãs, meus jovens amigos, se o capitão de um grande jato ultrapassar o ponto de retorno seguro e os ventos de proa forem muito fortes ou a altitude de cruzeiro estiver baixa demais, ele pode ser forçado a desviar-se da rota e seguir para um aeroporto fora do destino programado. Mas é diferente em nossa passagem pela vida de volta ao lar celestial: onde quer que nos encontremos nessa jornada da vida, sejam quais forem as provações que enfrentarmos, sempre haverá um ponto de retorno seguro, sempre haverá esperança. Nós estamos no comando da nossa própria vida, e Deus preparou um plano para trazer-nos em segurança de volta à Sua presença; esse é o nosso destino divino.

O dom da Expiação de Jesus Cristo concede-nos em todos os momentos e em todos os lugares as bênçãos do arrependimento e do perdão. Graças a esse dom, a oportunidade de deixar o curso desastroso do pecado e fazer um retorno seguro está ao alcance de todos nós.

Agradeço ao nosso amoroso Pai Celestial por essa dádiva, e disso presto testemunho de todo o meu coração e de toda a minha alma, em nome de Jesus Cristo. Amém.


A Liahona - Maio de 2007 PP 99-101

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